Mais "Walk", Mais "Talk"

Por Marco Dorna, presidente da Tetra Pak Brasil.

Não podemos negar que o momento atual é no mínimo desafiador quando falamos em sustentabilidade e negócios de maneira conjunta. Os recentes reveses observados em diversas partes do mundo alimentam um renovado discurso negacionista mesmo diante da evidente emergência climática em que vivemos. Neste sentido, temos hoje um terreno fértil onde não apenas o "talk" pode paralisar o "walk", mas principalmente o receio em fazer o "walk" bem-feito pode reforçar o "talk" perverso.

Embora muitas empresas estejam efetivamente implementando ações concretas voltadas ao meio ambiente e de cunho social, uma grande parte delas tem optado por não divulgá-las publicamente. Trata-se de uma prática batizada de greenhushing, que vem ganhando corpo diante de receios à exposição, críticas a consistências de resultados e até eventuais acusações de greenwashing - ou seja, estratégia de trazer discursos sobre ser mais ambientalmente assertivo do que realmente é.

Relatório Net Zero da consultoria South Pole, por exemplo, mostrou que há menos de cinco anos, uma em cada quatro empresas havia definido metas de redução de emissões com base científica, mas não planejava torná-las públicas.

Agora, imagine essa prática em meio a um cenário mais hostil em relação a temas ESG como vemos agora. O risco é grande: sem comunicação sobre avanços, não apenas as empresas e suas ações perdem credibilidade, mas principalmente cessam uma corrente poderosa de influência sobre outras empresas e cadeias inteiras.

É momento de reforçarmos as ações concretas, planos e iniciativas que façam diferença em algum ponto: dentro de cada empresa, na sua cadeia de valor, para a comunidade. Neste momento, entendo ser mais útil e assertivo falar sobre moralidade, sobre o que realmente é fundamental, o que é certo e não envolve necessariamente ideologia.

A Ciência tem, exaustivamente, comprovado que ações humanas têm levado a desequilíbrios ambientais e climáticos. Não há dúvida sobre isso. Ou não deveria haver. Assim, decisões e ações que sejam moralmente corretas, ou certas, devem ser a prioridade de todos e todas.

O setor privado, claro, enquadra-se aí. Todo resultado financeiro e/ou reputacional que colocar a sustentabilidade no centro da estratégia de negócios pode ser ainda mais relevante. O questionamento sobre a causalidade entre sustentabilidade e resultados financeiros tem sido colocada em xeque de maneira dramática.

Se tal conexão é muitas vezes difícil de demonstrar, precisamos de maneira consistente acreditar e apostar na correlação inequívoca entre sustentabilidade e não apenas o retorno financeiro, mas também em tudo o mais que ela traz, como maior lealdade dos consumidores, maior reputação e valor de marca, capacidade de atrair e reter os melhores talentos, por exemplo.

É preciso não parar de fazer o que se faz bem porque algum ponto não está ideal. Não temos ainda todas as respostas, e compartilhar boas práticas contribui enormemente para o fortalecimento de redes colaborativas e acelerar inovações.
São necessárias publicações de metas concretas, mesmo que iniciais, ou parcerias com certificadores independentes, que validam os resultados ambientais. Adotar comunicação honesta e equilibrada, destacando os desafios e reforçando o impacto positivo dos resultados reais, é o caminho.

É exatamente por tudo isso que, mais do que nunca, é preciso fazer o que é necessário para evitar que governos, empresas e sociedade não entrem neste caminho de negação. E fazer mesmo, com ações concretas, e colocá-las para fora. Mais "walk", mais "talk".

*Marco Dorna é presidente da Tetra Pak.

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