*Por Renzo Perazzolo, Diretor de Serviços da Tetra Pak Brasil
De acordo com o Anuário Estatístico de 2024 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a produção agrícola primária mundial – como grãos, legumes e frutas – aumentou em 56% entre 2000 e 2022, chegando a 9,6 bilhões de toneladas. Ao mesmo tempo, segundo o relatório, em 2023, a fome afetou 9,1% da população mundial – um aumento significativo em relação aos 7,5% registrados antes da pandemia. Isso indica que o desafio atual parece menos relacionado à produção em si e mais à forma como os alimentos são processados e distribuídos.
Entre as principais respostas está um fator crítico: o desperdício. Segundo o Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos de 2024, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a perda e o descarte de alimentos são responsáveis por 8% a 10% das emissões globais de Gases de Efeito Estufa (GEE). E o Brasil, apesar de ser um dos maiores produtores mundiais, ocupa a 10ª posição no ranking dos países que mais desperdiçam comida, segundo dados da Organização das Nações Unidas.
Na indústria nacional, os números se tornam ainda mais reveladores: no Brasil, 60,9% de tudo o que é produzido passa por algum tipo de processamento pela indústria de alimentos e bebidas, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). Isso significa que grande parte das decisões que impactam o aproveitamento, a conservação e até mesmo o acesso ao alimento acontece justamente nesse elo da cadeia, o que amplia ainda mais a responsabilidade (e a oportunidade) da indústria em tornar esse sistema mais eficiente e sustentável.
Por isso, é fundamental que a indústria de alimentos e bebidas se posicione como um agente ativo de cuidado com o planeta e com as pessoas. Adotar tecnologias de processamento de alimentos e soluções de embalagem – que envolvem desde o desenho de linhas de produção mais eficientes até sistemas de manutenção, serviços conectados e gestão orientada por dados – tem se mostrado uma estratégia eficaz para reduzir perdas, otimizar o uso de recursos naturais e, ao mesmo tempo, manter a competitividade.
Assim, é essencial tomar decisões que proporcionem novas maneiras de otimizar o consumo de energia, água e produtos químicos de limpeza em toda a fábrica, possibilitando gerenciar as utilidades de forma a reduzir a pegada ambiental e custos operacionais de longo prazo. Nesse caso, a famosa frase “o barato sai caro” ganha uma nova dimensão: economizar na escolha inicial de parceiros, equipamentos e tecnologias pode significar mais desperdícios, mais paradas não planejadas e, no fim, menos competitividade. Estar atento às transformações do setor e manter a estrutura sempre atualizada é o que permite sair na frente e responder, com agilidade, às demandas de um mercado cada vez mais exigente.
Em um cenário como esse, contar com equipamentos tecnológicos, embora seja importante, não é suficiente. Para garantir uma produção mais eficiente e sustentável, é preciso também investir em uma operação conectada. Por exemplo, quando soluções de automação e digitalização são integradas à rotina da fábrica, elas possibilitam o monitoramento contínuo do desempenho e tomadas de decisões baseadas em dados em tempo real. Isso inclui desde o fornecimento de peças de reposição e serviços de manutenção diária, até atualizações estratégicas a longo prazo, capacitação técnica das equipes, suporte remoto e análise de prevenção.
Eficiência produtiva e energética caminham lado a lado com a sustentabilidade. Diante da necessidade de reduzir custos, cumprir metas ambientais e atender às exigências do mercado, fabricantes de alimentos e bebidas precisam encontrar formas mais inteligentes de operar. Estratégias como o reaproveitamento de calor gerado em um processo para ser utilizado em outro, por exemplo, têm se mostrado altamente eficazes na redução do uso de combustíveis fósseis. Com o suporte técnico adequado, é possível construir planos de ação alinhados a metas específicas – como, por exemplo, se tornar net zero.
Para uma produção mais sustentável, o uso consciente de água e até de produtos de limpeza também é uma etapa fundamental. Tecnologias de filtração e recuperação, como osmose reversa e nanofiltração, já permitem que as fábricas otimizem os processos de CIP (limpeza no local), reaproveitando até 90% da água e dos insumos utilizados durante a higienização dos equipamentos. Além disso, em vez de direcionar os resíduos diretamente ao esgoto, é possível tratá-los para reutilização futura.
Ao fim da produção, a maneira como os alimentos e bebidas são envasados também exerce um papel estratégico na eficiência operacional e na sustentabilidade da cadeia. Embalagens bem projetadas, produzidas a partir de fontes renováveis e recicláveis contribuem para a redução de emissões de carbono e para a adoção de práticas mais sustentáveis. Além disso, tecnologias avançadas de envase também ajudam a preservar o sabor, a textura e a qualidade dos alimentos, estendendo sua validade e facilitando o transporte e o acesso do consumidor. As soluções de embalagem, portanto, também possibilitam uma distribuição mais justa e eficiente dos alimentos, chegando às prateleiras com redução de perdas e mais segurança.
Hoje, uma indústria sustentável não é mais um diferencial: é uma necessidade. Não só pela evolução da própria indústria, que atingiu novos patamares tecnológicos e operacionais, mas também pelas expectativas dos consumidores. Segundo o Tetra Pak Index, um estudo periódico feito globalmente para compreender comportamento e tendências de consumo de alimentos e bebida, 55% dos entrevistados dizem ter melhorado seus hábitos alimentares e 70% dizem que produtos saudáveis não devem prejudicar o meio ambiente. Essa resposta mostra a urgência da indústria de alimentos e bebidas de integrar a sustentabilidade à sua produção cotidiana. Além de perdas e emissões de GEE, também se trata da distribuição desses alimentos e o acesso a eles. A indústria, nesse movimento, tem um papel central: unir inovação e eficiência a um sistema alimentar mais saudável, justo e sustentável.
*Renzo Perazzolo é graduado em Engenharia Elétrica pela Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) e possui MBA pela Fundação Getúlio Vargas. Iniciou sua carreira na Tetra Pak Brasil em 2002 como trainee e desde então ocupou diversas posições na área de Serviços. Em 2010, ele se tornou Gerente de contas com foco em serviços e em 2018 mudou-se para os Estados Unidos para assumir a posição para o mercado Estados Unidos e Canadá, sempre com foco no relacionamento com clientes.