Uma rota de crescimento para as bebidas vegetais


*Por Monica Pieratti
 

Nos últimos anos as gôndolas dos mercados foram inundadas por produtos com apelo saudável e, mais recentemente, também com apelo sustentável. Não por acaso, a indústria tem investido em uma série de inovações a fim de atender às novas demandas dos consumidores em diferentes ocasiões de consumo. A bola da vez agora são os produtos à base vegetal, que entre 2015 e 2020 expandiram em quase 70% o seu faturamento global, segundo dados da Euromonitor International.
 

Por trás deste crescimento há uma série de motivos, bem como uma dúvida geral: quais fatias de mercado as bebidas vegetais poderão absorver nos próximos anos? Relatório do Credit Suisse traz um prognóstico. Segundo a instituição, o mercado global de carnes e laticínios alternativos poderá saltar dos atuais US$ 14 bilhões para US$ 1,4 trilhão até 2050. Como referência, o valor estimado é comparável ao PIB anual de países como Brasil e Rússia.

Para a indústria de bebidas, os produtos vegetais podem ser a chave para desbloquear um mercado potencial que se sustenta na busca por uma alimentação saudável. Isso significa que o que antes se limitava a oferta de produtos à base de soja, hoje abrange uma infinidade de matérias-primas, que incluem amêndoas, coco, arroz e aveia (no caso do último ingrediente, uma opção de fácil cultura e rica em fibras e proteínas, servindo de base para uma ampla variedade de formulações).

Em comum, as novas formulações oferecem sabor, textura e valor nutricional comparável ao leite animal e outras bebidas lácteas, atendendo a um amplo grupo de consumidores. A diferença, entretanto, está no driver de consumo dessas bebidas. Da mesma forma que se enganam aqueles que pensam que alimentos à base vegetal estão limitados a consumidores veganos ou flexitarianos (grupo que prioriza uma alimentação à base de plantas, mas sem abrir mão de alimentos de origem animal), também estão equivocados aqueles que imaginam que o consumidor irá simplesmente migrar dos lácteos para as bebidas vegetais.

Não se trata de uma troca em modelo de substituição, mas de um complemento em um mercado cada vez mais diversificado. Isso significa que, com exceção de consumidores veganos ou intolerantes a componentes do leite animal, demais compradores podem intercalar o consumo de leite e bebidas lácteas com opções vegetais ou mesmo conciliar os produtos em uma mesma ocasião de compra – priorizando um deles para o café da manhã e o outro para lanches rápidos, por exemplo.

Ocasiões de consumo à parte, é certo que o segmento de alimentos vegetais continuará crescendo. Segundo pesquisa realizada pelo The Good Food Institute, 59% dos brasileiros passaram a consumir alternativas vegetais em substituição a opções de origem animal ao menos uma vez por semana. Em outra frente, redes de fast food com atuação global preveem que metade do seu cardápio será composto por produtos à base vegetal até 2031, mostrando que tal escolha vai além de um nicho específico.

Mas ainda que o boom dos produtos vegetais tenha explicação no desenvolvimento de novas técnicas de processamento e na maior disposição do consumidor para abrir mão da proteína animal, isso não explica o todo. Por trás desse fenômeno há também uma mudança comportamental que afeta praticamente todos os setores da sociedade e da economia global: um compromisso generalizado com a preservação do meio ambiente.

É notório o quanto a sustentabilidade tem influenciado e ditado novos rumos em diferentes setores. Não coincidentemente, empresas genuinamente engajadas com o tema tendem a ter maior valor de mercado e melhor desempenho em bolsas de valores, por exemplo. Em geral, essas marcas também contam com maior tolerância dos consumidores em momentos de crise.

Portanto, se a proposta é investir em alimentos e bebidas vegetais com o intuito de incluir em seu portfólio opções percebidas como mais sustentáveis, passos anteriores precisam ser dados no mesmo sentido. Dentre eles, a escolha de embalagens que tenham menor impacto ambiental e que possam ser direcionadas para reciclagem, além do investimento em equipamentos de processamento e envase que permitam reduzir o consumo de água, energia e demais insumos utilizados durante a fabricação do produto. Feita a lição de casa, voltam-se, então, os olhos para a formulação.

Sendo assim, em um mercado que cada vez mais preza pelo dinamismo e pela diversidade de opções, as bebidas vegetais surgem como aliadas das empresas dispostas a inovar.

*Monica Pieratti é diretora de portfólio para a área de Processamento da Tetra Pak, sendo responsável por toda a região Américas. Formada em Marketing pela Universidade Luterana da Califórnia, a executiva acumula experiência no desenvolvimento de estratégias de negócios em diferentes mercados, inclusive tendo liderado o desenvolvimento de portfólio de produtos para a Tetra Pak globalmente.