*Por Marco Dorna, Presidente da Tetra Pak Brasil.
No mês passado, ocorreu nos Estados Unidos a Natural Products Expo West 2025, a maior feira de alimentos e bebidas naturais do mundo e que reuniu cerca de 85 mil participantes e 3,6 mil expositores. Focada neste segmento específico, a feira não apenas tem sido nos últimos anos um verdadeiro catalisador de um enorme mercado estimado em US$ 400 bilhões até 2030, mas também tem servido como um grande radar de sinais sobre as tendências que estão pautando a dinâmica deste setor nos Estados Unidos e no mundo.
Ao caminhar pela feira, rapidamente pode-se perceber que algumas tendências ganharam forte aceleração ao longo dos últimos anos e, dentre inúmeros sinais passíveis de serem capturados por ali, alguns chamaram muito a atenção, tais como:
"O protagonismo cada vez maior da "proteína" como principal fonte geradora de nutrição saudável e que se espalha para praticamente todas as gôndolas como snacks, massas, sucos, bebidas e até mesmo na categoria de águas.
"Grande proliferação de bebidas não alcoólicas voltadas a atender uma jovem geração de consumidores fanática por experimentar e explorar novas alternativas de consumo, mas que prefere fazê-lo sem o álcool.
"A aceleração e ganho de escala das tecnologias de Fermentação de Precisão na produção de alimentos em laboratórios.
"Inúmeros produtos desenvolvidos especificamente para usuários das drogas GLP-1 e suas demandas nutricionais específicas (prioritariamente com proteínas e fibras adicionadas para melhor nutrição e digestão de nutrientes), evidenciando o potencial transformador desta tecnologia e com impactos em muitas cadeias de valor.
Os pontos acima seguramente poderiam ser tema de outras colunas inteiras por aqui. Mas gostaria de falar sobre outra grande tendência observada não apenas na feira, mas que tem feito parte constante das discussões no setor de alimentos e bebidas: a redução do desperdício de alimentos não apenas por seu claro impacto em termos de sustentabilidade, mas também de geração de valor adicional para companhias e consumidores.
Não é de hoje que o consumidor tem procurado alimentos mais naturais e que causem mínimos impactos à Natureza, estimulando a indústria a investir cada vez mais em inovação e projetos sustentáveis para atender essa demanda. Trata-se de uma engrenagem que se autoalimenta de forma assertiva. Recente pesquisa Index da Tetra Pak, com 5 mil consumidores e vários especialistas em todo o mundo, mostrou que 70% dos entrevistados dizem que os produtos saudáveis não devem prejudicar o ambiente, enquanto outros 54% estão dispostos a assumir a responsabilidade pelo planeta e a mudar a sua dieta para contribuir para um mundo melhor.
Sabemos que a cadeia de alimentos e bebidas tem ainda espaço para melhorar em termos de sustentabilidade, como redução de emissões e desperdícios. A boa notícia é que soluções positivas têm sido desenvolvidas, muitas delas diretamente voltadas para o consumo final. Ou seja, para os produtos que irão para a dieta das pessoas.
Para tanto, é essencial revisar os processos de produção para minimizar perdas ou, melhor ainda, transformá-los em um novo produto ou ingrediente, conceito conhecido como "upcycling food". Trata-se da tecnologia sustentável que transforma resíduos e subprodutos alimentares e bebidas em novos produtos ou alimentos, abrindo a possibilidade de aproveitar 100% das matérias-primas.
Ao buscar um desenvolvimento sustentável fazendo o melhor uso possível dos recursos naturais, podemos reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa e promover uma cadeia de valor mais eficiente. Além dos benefícios ambientais, o upcycling food também tem um impacto positivo em comunidades locais. Ao transformar resíduos em novos produtos, criamos oportunidades de emprego e promovemos a inclusão social, contribuindo para uma economia mais justa e sustentável. Pode soar estranho hoje, mas a tão consumida água de coco é fruto de um upcycling, assim como as bebidas a base de whey protein oriundas do processamento de produtos lácteos.
De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, os resíduos da produção de alimentos são responsáveis por cerca de 8% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) provocadas pela humanidade. Ou seja, a indústria tem um papel crucial na redução desses impactos.
A inovação em alimentos, com vistas à sustentabilidade, não para por aí. Ela também se dará por meio de novas formas de "sourcing" (origem) e "sustenance" (melhorar valor nutricional), diante dos desafios de recursos escassos e questões climáticas. Existem tendências claras de consumo, enfatizando valor além do preço: sustentabilidade, conveniência, saúde personalizada e experiências sensoriais únicas.
Além disso, qualidade nutricional também influencia a saúde mental das pessoas e, com inovação e tecnologia, ampliar o acesso a eles também pode ser considerada uma ação sustentável. Colocar à disposição produtos que promovam relaxamento, melhor sono, saúde do cérebro, energia e hidratação é um dos caminhos para nossa indústria.
O trabalho não é pouco, mas prefiro sempre aqui colocar em evidência caminhos para soluções sustentáveis e servir de incentivo, em meio ao cenário de mais consequências climáticas negativas e atitudes aquém do necessário. E, neste caso, a trilha está sendo desenhada pelo consumidor final.
*Marco Dorna é presidente da Tetra Pak.
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