2023-02-28

Visão do especialista

Mercado de sorvetes: o futuro já está conectado à digitalização da linha de produção

Por Ana Paula Forti, diretora de Processamento da Tetra Pak Brasil*

"O sorvete é, sem dúvida, uma paixão nacional". Velha conhecida de quem atua no setor sorveteiro, tal afirmação pode surpreender consumidores e profissionais de fora do segmento, mas há alicerces sólidos que sustentam esse mote. De acordo com a consultoria Euromonitor, a previsão de faturamento do segmento para 2022 ultrapassaria os R$ 15 bilhões, valor 7,10% maior do que havia sido registrado em 2021. Mas previsões à parte, o fato é que a indústria do sorvete é uma potência nacional, que gera anualmente mais de 100 mil empregos diretos, além de 200 mil indiretos.

No entanto, mesmo demonstrando um cenário consolidado e com números imponentes, ainda há potencial para expansão e fortalecimento. E um dos caminhos para esse crescimento está na digitalização na linha de produção, tornando-a mais padronizada, integrada e preparada para se manter além da sazonalidade e promover a otimização de processo e de consumos, seja com o melhor aproveitamento dos ingredientes ou com redução de consumo de utilidades.

Um setor que há algumas décadas testemunhava uma produção totalmente artesanal e com uma pequena variedade de sabores, vive nos dias de hoje uma evolução tecnológica significativa, com melhorias que vão desde a cadeia de processamento até o desenvolvimento de novos sabores e texturas, passando pela expansão e pela oferta de qualidade e de variedade ao consumidor. No entanto, ainda há muito a se fazer, e o avanço tecnológico rumo à digitalização na linha de produção é um dos caminhos fundamentais a ser perseguido para solucionar alguns desafios que ainda persistem, como o de tornar a produção mais padronizada, independente e eficiente.

E voltemos aqui à sazonalidade, citada por mim linhas acima, e que ainda é um ponto de dor de muitos produtores. O Brasil é um país tropical, onde muito do mercado gira em torno do calor. Mas além do ponto de vista cultural, há outros desafios que devem ser superados. Quando comparamos com outros setores, alguns produtores de sorvetes ainda têm dúvidas sobre a necessidade dessa adaptação à era digital, principalmente por temerem que a digitalização venha a sacrificar o toque artesanal e de tradição do produto. Aqui na Tetra Pak nós entendemos perfeitamente esses receios e é por isso que nosso papel é aconselhar, e, de forma estratégica e parceira, oferecer o melhor cenário para o desenvolvimento de toda a escala de produção. 

Padronização e integração

O papel da digitalização não tem como objetivo transformar o produto em algo que ele não é. Pelo contrário – ao trazer a tecnologia para a fábrica, o produtor dará ainda mais destaque – e importância para que o produto desenvolvido assuma seu verdadeiro papel de protagonista. Equipamentos para mistura, homogeneização, processamento e envase precisam estar conectados para oferecer uma produção uniforme e padronizada, com economia de tempo, de insumos e de força de trabalho. E essa uniformização beneficia o produto, o próprio consumidor e, por consequência, o negócio. Desde equipamentos que possibilitam a produção contínua de sorvete, fazendo o congelamento com incorporação de ar mais precisa até um braço robótico projetado para ser uma solução adequada as produções pequenas e médias, que visam aumentar a automatização do processo de envase de sorvete de massa e trazer benefícios como a opção de decoração e padronização desses produtos, o mercado está evoluindo a passos largos.

A digitalização combate a sazonalidade

E dentro desse conceito de crescimento digital, a não dependência da sazonalidade também será potencializada. Hoje, segundo a ABIS, 52% do consumo regional de sorvete está localizado na região sudeste, que possui estações do ano relativamente bem definidas, com o verão concentrado entre os meses de dezembro e março. Porém, o Brasil tem potencial para crescer, expandindo esse consumo para outras épocas e ocasiões. Hoje, por exemplo, as regiões norte e nordeste apresentam possibilidade para uma expansão tanto na venda de produtos quanto na produção em si, uma vez que fogem um pouco da dificuldade que a sazonalidade traz às projeções de vendas - pois estão mais expostas ao calor - e também por terem espaço para aumentar a profissionalização e automatização das suas operações.

Além disso, o crescimento de segmentos promissores, como é o caso do açaí, aliado ao investimento tecnológico na linha de produção, também tem potencial para driblar a sazonalidade. Um exemplo disso é o case de sucesso do Grupo Zeppone, dono das marcas Polpanorte, Origem Açaí e Frutuá, que desde 2015 atua com a produção de cremes e sorvetes à base de açaí. A empresa apostou no potencial do açaí para crescer no setor de sobremesas congeladas e, com a Tetra Pak como parceira, investiu na diversificação de portfólio de equipamentos e de serviços que trouxe uma produção com melhores performance e qualidade! Hoje, além de abastecer o mercado nacional, as duas unidades de produção do Grupo Zeppone, localizadas em Japurá (PR) e Benevides (PA), exportam para mais de dez países localizados na América Latina e na Europa.

Futuro

O futuro do setor de sorvetes está diretamente conectado ao que for executado e investido no presente. E a digitalização dos meios de produção é um caminho que precisa ser identificado e trilhado para que seja alcançado um futuro com potencial. Este é o futuro que se faz agora, no presente, e que precisa estar no foco do percurso do mercado e de todos os seus colaboradores, desde os operadores, gerentes, diretores e presidentes. É o ponto de partida para que possamos todos acompanharmos esse crescimento, para que alcancemos juntos, e ainda mais fortes, este novo e ainda mais saboroso episódio para este nosso querido e promissor setor.

Ana Paula Forti, diretora de Processamento da Tetra Pak Brasil*
Ana Paula Forti iniciou sua jornada na Tetra Pak em fevereiro de 2010, em Monte Mor, como Gerente de Projetos. Após 12 anos a executiva assumiu o cargo de Diretora de Processamento na Tetra Pak Brasil, que ocupa até hoje. Ana é formada em Engenharia Química pela Escola de Engenharia Mauá e possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).   

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