Capacitação técnica: o motor invisível da eficiência industrial

*Por Renzo Perazzolo, Diretor de Serviços da Tetra Pak Brasil

Na construção de uma carreira, a prática e o contato com desafios são valiosos. Mas o conhecimento formal, aquele que vem de graduações, especializações ou formações técnicas, também tem grande peso. Na verdade, é a união entre teoria e prática que oferece o caminho mais completo para o desenvolvimento profissional.

Essa ideia, comum em áreas administrativas, precisa ganhar espaço também nas fábricas. Com operações cada vez mais automatizadas e complexas, a formação técnica contínua deixou de ser um diferencial e se tornou essencial para acompanhar a evolução do setor.

Capacitar tecnicamente não é apenas ensinar uma função: é desenvolver pensamento crítico, leitura de cenários e autonomia para tomar decisões. O operador precisa entender por que uma falha ocorre, como preveni-la e quais os impactos de cada ação. Isso dá segurança e repertório para lidar com sistemas cada vez mais sofisticados.

A execução de tarefas já não é suficiente. Hoje, espera-se que os operadores compreendam o processo de ponta a ponta, saibam interpretar dados, reconhecer padrões e agir com precisão. Isso exige mais do que experiência prática: pede uma formação estruturada, contínua e conectada às transformações tecnológicas.

Os impactos da falta dessa formação podem não ser imediatos, mas surgem em forma de falhas não resolvidas, ajustes imprecisos ou decisões mal embasadas. Com o tempo, esses desvios comprometem a performance da planta e aumentam custos. Por isso, a qualificação técnica está diretamente ligada ao Custo Total de Propriedade (TCO); sem preparo adequado, mesmo os equipamentos mais modernos podem ser subutilizados, gerando desperdício ou riscos operacionais.

Apesar dos benefícios, o investimento em capacitação ainda enfrenta obstáculos. Em ambientes que valorizam produtividade imediata, “parar para aprender” pode ser visto como um custo. Mas essa visão precisa mudar: treinar a equipe não é interromper a produção, mas sim preparar o terreno para que ela seja mais segura, sustentável e eficiente.

Felizmente, o acesso à educação também evoluiu. Plataformas digitais, conteúdos assíncronos e trilhas modulares permitem que o aprendizado se adapte à rotina da operação. Assim, a capacitação deixa de ser algo pontual e se torna um processo contínuo, integrado à realidade das fábricas.

Esse modelo é reforçado por metodologias como o World Class Manufacturing (WCM), que reconhece o desenvolvimento de pessoas como pilar para a eliminação de perdas e o empoderamento dos operadores. O Japan Institute of Plant Maintenance (JIPM), que promove o conceito da Manutenção Produtiva Total (TPM), também defende uma cultura em que todos estejam preparados para identificar falhas, agir preventivamente e garantir estabilidade na operação.

Essas abordagens mostram que não há excelência sem capacitação. Operadores bem treinados são a chave para antecipar problemas, manter a produtividade e alcançar resultados consistentes. Investir em formação técnica é investir em eficiência, previsibilidade e competitividade industrial.

*Renzo Perazzolo é diretor da área de Serviços da Tetra Pak Brasil. O executivo iniciou sua carreira na empresa em 2002 como trainee e, desde então, ocupou diversas posições no setor. Em 2010, assumiu o cargo de gerente de contas com foco em serviços e, oito anos depois, mudou-se para os Estados Unidos na posição para o mercado dos Estados Unidos e Canadá, sempre com foco no relacionamento com clientes. É graduado em Engenharia Elétrica pela Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) e possui MBA pela Fundação Getúlio Vargas.