Visão do especialista

Identificando os desperdícios na produção de alimentos e bebidas com o apoio de um olhar externo

*Por Edison Kubo

Anualmente, toneladas de alimentos são produzidas e desperdiçadas em todo o mundo. Segundo a última edição do Índice de Desperdício de Alimentos, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), somente em 2019 foram 931 milhões de toneladas de produtos alimentícios que simplesmente terminaram no lixo. Ainda que excessos dentro de casa também contribuam para esta realidade, é crucial analisar o papel da indústria neste cenário, visto que 66% do desperdício ocorre entre a produção e o varejo, de acordo com dados da agência de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO).

Uma questão recorrente na cabeça de gestores da indústria é: onde estão os desperdícios na minha produção? Mesmo que este seja um questionamento comum em qualquer operação industrial, no setor de alimentos e bebidas ele aparece com mais força – talvez, justamente por haver uma consciência geral de que, nesta indústria, desperdícios não significam somente a redução dos lucros do produtor, mas também impactam na segurança alimentar de milhares de famílias.

Naturalmente, cada operação é única e merece uma análise cautelosa e individualizada a fim de encontrar pontos de aperfeiçoamento. Mas uma coisa é certa: toda fábrica tem potencial para melhorias, seja pela introdução de tecnologias mais novas e que gerem maior eficiência à produção, seja pela revisão de processos que podem ser otimizados sem a necessidade de investimentos em novas soluções.

Atualmente, um dos principais focos de desperdício na indústria de alimentos está em processos mal dimensionados que acabam gerando desperdício de produto e elevado consumo energético. Em geral, são equipamentos do dia a dia, como bombas e válvulas, despendendo força superior ou inferior à indicada para aquele processo e, com isso, comprometendo matérias-primas e, em casos mais severos, a vida útil do sistema de processamento.

Em geral, consultorias técnicas para analisar possíveis áreas de melhorias são um caminho interessante para identificar as causas raízes de um problema e então solucioná-lo da forma mais completa possível. Há casos de fabricantes que através deste serviço encontraram oportunidades para aperfeiçoar processos, desde aqueles que demandavam mais investimentos em treinamento e capacitação das equipes até a troca de componentes obsoletos que já não performavam como deveriam.

Ao mapear todos os processos fabris e o nível de eficiência de cada um deles, é possível identificar pontos de aprimoramento e processos que demandem maior foco - e, eventualmente, aqueles que necessitem de intervenção imediata. Em complemento, a troca constante de conhecimento entre consultores técnicos e profissionais do chão de fábrica costuma ser o primeiro passo para o desenvolvimento de equipes com maior autonomia, destreza e rapidez para tomadas de decisão no dia a dia.

Inclusive, este é um dos caminhos que leva a uma melhor rotina de manutenção a partir de uma compreensão mais ampla dos equipamentos instalados na indústria. Mesmo que eles não estejam dotados de tecnologias integradas à nuvem e a centrais de monitoramento, é certo que toda máquina fala por si. Com equipes bem treinadas para entender os sinais emitidos, as rotinas de manutenção não somente passam a ocorrer de forma natural e programada, mas deixam de significar perdas na produção.

Seja pela contratação de uma consultoria técnica e especializada, um novo funcionário, treinamento e capacitação das equipes, redimensionamento e troca de equipamentos ou realização de benchmarking, são inúmeros os caminhos para elevar a eficiência da produção alimentícia e reduzir o nível de desperdício dentro da cadeia de valor. Às vezes, tudo o que é necessário é um olhar um mais apurado para que melhorias sejam colocadas em prática, principalmente com um olhar de fora para dentro. Assim, o seu negócio e o planeta agradecem.


*Edison Kubo é diretor de portfólio de Serviços da Tetra Pak para as Américas. Formado em Administração e com pós-graduação em Marketing e MBA Executivo Internacional, o executivo é responsável por direcionar a estratégia de negócios de Serviços da companhia para a região, com foco na oferta de soluções que levem mais eficiência e produtividade para fabricantes de alimentos e bebidas.

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